Diante de um cenário de crise, cada pessoa reage de maneira diferente. É natural que seja assim, especialmente num momento como esse que estamos vivendo, devido à pandemia. É preciso estar atento, porém, às atitudes irracionais. Para Leandro Karnal, historiador e professor da Universidade Estadual de Campinas e da PUC-RS, relações irracionais num momento de grande ameaça podem deixar a vida ainda mais complicada.
Em recente palestra realizada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Karnal falou sobre os três tipos de relações irracionais: saudosismo, negacionismo e histeria. Frente à uma grande crise, o saudosista constrói um mundo perfeito que existia antes do coronavírus, por exemplo. O negacionista nega a crise e ignora todas as medidas de segurança. Já o sujeito histérico entra em pânico e não consegue resolver mais nada em sua vida.
Para o historiador, é preciso ação para sair dessas armadilhas. Ação é o que muda a realidade. E é a ação positiva que faz a diferença. Karnal destaca que toda crise aumenta o poder de uma ação e também a velocidade dela. Para o palestrante, a crise desinstala as pessoas das soluções tradicionais e quebra paradigmas. A quebra de paradigma cerebral significa quebrar um modelo padrão de pensar e agir.
Máquina de hábitos
O nosso cérebro é uma máquina de hábitos. Ele adora repetir. Ama pensar as coisas do mesmo jeito que sempre pensou, destaca o historiador. Karnal lembra que a zona de conforto é aquilo que mais buscamos e também é aquilo que mais nos incomoda. É aquilo que mais nos prejudica e ao mesmo tempo é o que mais queremos.
Uma crise nos tira da zona de conforto e faz com que tenhamos que repensar coisas. Ao repensar, alerta o palestrante, nós vamos poder mudar e dar respostas novas. Mas como fica o medo que geralmente sentimos quando atravessamos grandes mudanças? O medo, lembra Karnal, é uma resposta natural diante de uma situação nova.
O historiador destaca a importância de saber identificar nossos medos. Alguns são fantasiosos do cérebro para que não haja mudança, justamente porque o cérebro é uma máquina de impedir mudanças. Uma importante estratégia, diz Karnal, é identificar o tamanho do medo para certas coisas ou mudanças. O medo é uma dificuldade em aceitar o novo mas também é uma advertência de que você está saindo de uma zona de conforto.
Ausência de medo não é uma virtude
Excesso de prudência e a falta dela são péssimas estratégias em momento de crise. Durante a palestra, Karnal citou exemplos de pessoas que saem às ruas sem medo durante a pandemia, ignorando todos os riscos. Essas pessoas não são audaciosas, mas sim irresponsáveis. Por outro lado, há aquelas pessoas que não saem em hipótese alguma e ficam completamente paralisadas em função do medo causado pela pandemia. Essas são covardes.
O historiador cita a hipótese da coragem aristotélica, que consegue praticar a ação com a prudência dada pelo medo. O desafio da mudança está exatamente nessa ideia de agir apesar do medo, agir levando o medo junto. Karnal destaca que a coragem não é a capacidade de fazer tudo sem medo, mas é a capacidade de pegar seu medo e levá-lo para ação.
Essa capacidade de enfrentar crises, levando o medo junto para a ação, torna o indivíduo estrategicamente importante, ressalta o palestrante. Para ele, esse momento de epidemia não permite que tenhamos atitudes saudosistas, negacionistas ou histéricas. O momento pede otimismo estratégico e reflexão sobre o futuro.
Karnal lembra que há uma onda de inovação passando mesmo em meio a esse epidemia, e destaca: “Podemos ficar para trás, e muitos ficam. Podemos acompanhar, alguns tentam. Mas apenas as pessoas excepcionais se antecipam a essa inovação. Aquelas que esperam passar, ficaram datadas. As que acompanham estão atualizadas. E as que vão à frente, serão extraordinárias e indispensáveis”.
Helio Pedro da Silva, economista e sócio-fundador da Probo Contabilidade
A Probo Contabilidade é um escritório especializado nas áreas contábil, tributária, trabalhista e de legalização. Tem sua trajetória de mais de trinta anos de atuação construída por meio de um trabalho focado na excelência dos serviços prestados a seus clientes.